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Um Lugar no Mundo
Alberto Aggio
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Falar em marxismo de matriz comunista (Evoé, Gildo Marçal Brandão!) na América Latina, categoria geográfica, polÃtica e cultural desde sempre imprecisa, com a qual espÃritos rebeldes e/ou teimosos seguem querendo e buscando se identificar, é falar de galhos polÃticos-culturais de um tronco quase imaginário.
Variados caracteres, alguns desses galhos estão mortos, outros sobrevivem pela referida teimosia. Mas um deles insere-se, na história polÃtica e intelectual do nosso continente, como uma "corrente subterrânea", mais ou menos tal qual a imagem que Raymundo Faoro tinha de certo liberalismo no Brasil. Tem papel não desprezÃvel na construção da democracia polÃtica, nesse quadrante do mundo, sem jamais ter alcançado nele a condição de corrente hegemônica, sequer a de corrente orgânica, em partidos polÃticos relevantes. Embora seja, efetivamente, uma tradição polÃtica que adotou Gramsci com "seu" autor para entender democraticamente um contexto e não como pretexto de proselitismo socialista, ou álibi legitimador de polÃticas pequenas – esta esquerda vê-se algo exilada da vida polÃtica do continente. Neste mundo particular opera, com realtivo êxito e poucas exceções, outras esquerda, situada na contramão dessa tradição reformista, democrática e republicana. O livro que Alberto Aggio nos oferece evoca o ethos polÃticos desta corrente (encapsulada?), sendo, em suas linhas mais firmes e gerais, uma incursão desse ethos sobre um terreno assumidamente movediço: o de dar sentido a uma história polÃtica latino americana. A reivindicação que intitula o livro – um lugar no mundo – revela a busca de dar perspectiva cosmopolita ao que é suposto como um lugar polÃtico pródigo em particularidades, entre as quais a de ser um lugar compartilhado por diversos lugares nacionais. A ideia da América Latina, enquanto substantivo coletivo, singular e plural, não é posta em discussão, mas tomada como premissa. Não há interpelação do coletivo por uma pauta nacional, a La Manoel Bonfim, por exemplo. Mas há interpelação de representações correntes, consagradas, sobre o que haja a identidade polÃtica deste continente. A interpelação de Aggio vem do que há de universal culturalmente fincado num extremo ocidente, mas cujo nome é como no centro, democracia e o sobrenome, polÃtica. O resultado, naturalmente, não é só história, nem se encaminha a uma história de ideias. A história, no caso, é ferramenta de ofÃcio, manejada com perÃcia técnica e honestidade intelectual para expor uma visão de mundo que é, antes e ao cabo de tudo, polÃtica. Assim se pode entender a coerente, rigorosa e inteligente submissão de um conjunto de temas politicamente nobres – já que mudamos – ao crivo vivaz de um pensamento polÃtico idem. É este pensamento que empresta unidade à s partes em que se divide o livro. É por este filtro cultural (da cultura da matriz ideológica referida) que passam todos os temas abordados na coletânea, escolhidos a partir de um cardápio engendrado pela vida intelectual do próprio autor. Temas que, em parte, saltam de textos agora revistos, mas originalmente escritos ao longo de sua trajetória acadêmica e publicÃstica. Ao lado da marca autoral, no livro reluz a aposta de Aggio numa experiência intelectual coletiva. |