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Por um novo reformismo

Giuseppe Vacca
260 páginas
ISBN: 978-85-89216-17-3
Tradução: Luiz Sergio Henriques (org.)
R$ 49,00  R$ 29,40

Este livro de Giuseppe Vacca não é mais um lançamento convencional no "mercado de ideias". Como o leitor logo vai perceber, existe aqui uma grande audácia teórica e política: a partir do conceito de reformismo, Vacca nos convida a reconstruir democraticamente as convicções da esquerda, apontando novos modos de conceber a mudança social e por ela lutar.


    O marxismo de Vacca aparece inteiramente recolhido com as formas da democracia política, que não é nem nunca foi "burguesa". Historicamente, o que ampliou as fronteiras do liberalismo foi a luta mais do que secular dos "grupos subalternos", para usar a linguagem de Gramsci. Vacca argumenta que o papel desses grupos não é se apoderar do Estado e dar a este uma forma ditatorial qualquer, supostamente progressista. Nada de ditadura do proletariado ou de qualquer forma de ditadura. Classes subalternas e Estado democrático de direito devem estar numa relação sem qualquer ambiguidade ou caráter instrumental.


    Diria explicitamente, e mais uma vez apoiado em Gramsci e em Vacca, que não se pode mais pensar em "assaltar" o Estado e usar a máquina estatal para transformar a sociedade de modo autoritário e cesarista. Neste sentido, a Revolução de Outubro, que por tanto tempo nos serviu de modelo, deve ser considerada a última revolução do século XIX. E a "revolução democrática" dos nossos dias – quer dizer, os modos de se desenvolver a luta revolucionária depois do "grande ato metafísico" de Outubro – está por ser inventada.


    Há neste livro mais ousadia teórica, que só de passagem posso mencionar. Para Vacca, socialismo e capitalismo, por assimétricos, não são termos antagônicos: o primeiro é um modo de regulação, o segundo um modo de produção. Não vejo nisso nenhum espírito de conciliação, mas um convite desafiador a imaginar o conteúdo dessa possível regulação de tipo socialista, indissociável, como é evidente, de lutas e conflitos sociais bastante complexos. A democracia é sempre difícil! Tema que é aprofundado, quando Vacca analisa a trajetória da esquerda italiana desde 1989 até o nascimento do Partido Democrático, análise indispensável para compreender a complexidade das questões que esse partido deve equacionar e resolver para retomar a posição hegemônica que, com avanços e tropeços, marcou a presença do PCI na vida política da Itália depois da Segunda Guerra Mundial.


    Não fico surpreso com a amplitude dessas reflexões. Mais uma vez, é o marxismo político italiano que nos estimula a renovar nossos caminhos, como tantas vezes já aconteceu. Vacca, mesmo quando aborda questões da atualidade, é um pensador que vem de longe: insere-se criadoramente na tradição de Gramsci, Togliatti e Berlinguer, teóricos e políticos que, em diferentes circunstâncias, construíram pontos de referência fundamentais no combate das ideias entre nós, e até muito além das fronteiras da esquerda.


    No momento da primeira grande crise da globalização – que requer, sobretudo, criatividade e capacidade de autorrenovação –, a contribuição de Vacca reabilita a corrente reformista do socialismo, que, no fundo, pretende interpretar com mais lucidez o movimento real das coisas, e sobre ele agir, rumo a níveis sempre mais altos de civilização. Essa também a sua importância para os democratas brasileiros.


    Armênio Guedes

    Presidente de honra da

    Fundação Astrojildo Pereira.

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