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Os poderes da filologia: dinâmica de conhecimento textual

Hans Ulrich Gumbrecht
148 páginas
ISBN: 978-65-5639-016-1
Tradução: Greicy Pinto Bellin e Claudia Regina Camargo
R$ 56,00  R$ 33,60

"Recentemente, tive a oportunidade de observar as nuvens passando por cima das ruínas do Castelo de Heidelberg. [...] Esse espetáculo me fez sentir a tensão entre um ritmo de mudança particularmente rápido (o das nuvens que passavam) e outro ritmo de mudança (a das ruínas) tão lenta que só posso evocá-la imaginando o castelo em seu antigo esplendor [...]. Que é a transformação contínua das formas das nuvens e a lenta transformação do castelo? [...] Esse jogo de emergir e desaparecer não inclui momentos que marcam um evento porque a percepção deste evento exigiria um contraste entre ele e algo que não é movimento e transformação. Sem nunca atingir um estado que associaríamos a conceitos como "conclusão" ou "descanso", o jogo de emergir e desaparecer no céu também nos recusa a correspondente sensação de alívio."
Hans Ulrich Gumbrecht

* * *

Os poderes da filologia são muitos. Bem o sabem, além dos filólogos, os literatos, humanistas, escritores, linguistas e eruditos em geral. Muitos leigos não teriam dificuldades em reconhecê-los, no todo ou em parte: identificar fragmentos textuais, editá-los para os disponibilizar ao público como textos, comentá-los cuidadosamente para fornecer aos seus leitores a maior quantidade possível de conhecimento a respeito deles e, finalmente, historicizá-los, mostrar que pertencem a certa época, lugar, tradição etc. Não à toa, essas tantas tarefas confluem para o ensino do que pode estar contido nas fontes tratadas pela filologia.

Certamente, são poucos os que conhecem tão detalhadamente os caminhos da "dinâmica do conhecimento textual" quanto Hans Ulrich Gumbrecht. Atento à pluralidade de significados e de práticas associados ao termo filologia, ele explora as habilidades acadêmicas para a "curadoria de textos históricos".

Os leitores de Sepp Gumbrecht, entretanto, sabem que um livro seu, a esta altura da sua longa trajetória de estudos humanistas e literários, não se limitaria a uma apresentação erudita do tema, embora esta também esteja presente. O autor prossegue neste volume, com a intensidade intelectual e o inconfundível estilo que caracterizam o seu pensamento, a sua ação acadêmica e a sua escrita, a busca e a proposição de alternativas não hermenêuticas para as humanidades. Os poderes da filologia apresentam, assim, uma passagem do caminho que vem das "materialidades da comunicação" à "produção de presença" e que, no estudo das tarefas de identificação e restauração dos textos dos passados culturais, trata de encontrar desejos de presença do passado nos fragmentos textuais que a filologia nos disponibiliza.

A instigante presença de Hans Gumbrecht se manifesta ao leitor desta bela edição brasileira destinada a provocar, uma vez mais, a imaginação e a autorreferência dos humanistas e dos intelectuais.

Marcelo Jasmin
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Nascido na Alemanha, Hans Ulrich "Sepp" Gumbrecht é professor de literatura comparada na Universidade Stanford, nos Estados Unidos, onde ocupa a cadeira Albert Guérard. Dele, a Contraponto já publicou "Produção de presença: o que o sentido não consegue transmitir", "Graciosidade e estagnação: ensaios escolhidos" e "Atmosfera, ambiência, Stimmung: sobre um potencial oculto da literatura".