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Ciências da cultura

Ernst Cassirer
192 páginas
ISBN: 978-65-5639-023-9
Tradução: César Benjamin
R$ 75,00  R$ 45,00

¨Desde Platão contamos com uma lógica da matemática, e desde Aristóteles, uma lógica da biologia. Aqui, os conceitos matemáticos de relação e os conceitos biológicos de gênero e de espécie encontraram um lugar seguro. Descartes, Leibniz e Kant construíram a ciência matemática da natureza e, finalmente, no século XIX, surgiram as primeiras tentativas de uma lógica da história. No entanto, se olharmos para os conceitos fundamentais da ciência da linguagem, da ciência da arte e da ciência da religião, veremos que eles, em certo sentido, carecem de um lar e de uma pátria: ainda não encontraram um assento natural no sistema da lógica."
Ernst Cassirer

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Ernst Cassirer (1874-1945) foi o mais destacado representante da segunda geração da Escola de Marburgo, na qual se afirmou como o grande intérprete da filosofia de Kant. Ensinou em universidades alemães, principalmente em Berlim, e foi reitor da Universidade de Hamburgo. Publicou trabalhos eruditos sobre direito, literatura e filosofia, com destaque para o Renascimento e o Iluminismo. Pensou a cultura a partir de uma teoria dos símbolos, tal como exposta em sua "Filosofia das formas simbólicas", em três volumes, de 1923.

Com a chegada de Hitler ao poder, em 1933, buscou asilo na Suécia e depois nos Estados Unidos, onde foi acolhido nas universidades de Yale e de Colúmbia. Ao longo da vida, estudou com Wilhelm Dilthey, Hermann Cohen e Georg Simmel, entre outros, e manteve prolongado intercâmbio intelectual com Moritz Schlick, fundador do Círculo de Viena. Isso lhe permitiu trabalhar simultaneamente com filosofia da matemática e das ciências naturais, de um lado, e com estética e filosofia da história, de outro. Em 1942, perto do final da vida, publicou este "Ciências da cultura".

Não é um tema trivial. Na concepção mítica, não existe um mundo rigorosamente determinado, regrado e preenchido por unidades constantes. As coisas podem desaparecer a qualquer momento, pois não se apoiam em qualidades fixas. Toda forma pode ser transformada em outra, tudo pode nascer de tudo. O Universo assume aspectos diferentes, conforme os desejos e as emoções do sujeito.

As ciências da natureza foram empurradas para o extremo oposto. Buscam qualidades primárias quantitativas que descrevem uma realidade objetiva e compartilhada. Tudo o que não se enquadra nessa linguagem passa a ser considerado ilusão. As duas características substanciais do mundo visto pela ciência são a consistência das propriedades e a constância das leis. Ela constrói um cosmos ao interromper o fluxo heraclitiano do devir, extraindo dele determinações estáveis e permanentes, consolidadas em conceitos.

A construção dessa realidade objetiva comum exige um sacrifício: esse mundo é radicalmente desprovido de subjetividade. Tudo o que lembra a experiência pessoal do eu é deslocado, eliminado ou extinto.

Entre os dois extremos, está o mundo da cultura. Objetos materiais, crenças e atitudes estão imersos em universos objetivos, como os da ciência, mas simbólicos, como os do mito. Eles são transmitidos entre indivíduos, gerações e povos por diversos meios, não necessariamente materiais. Assim, uma ordem humana de coisas e fatos, suprabiológica e extrassomática, flui no espaço, de um grupo a outro, e no tempo, de uma época a outra, de uma forma que não se assemelha nem aos mitos nem às ciências da natureza. É o mundo humano por excelência, que precisa ser descrito e analisado, a partir de seus próprios princípios, pelas ciências da cultura.

César Benjamin