Seus textos, mesmo quando preparados para serem lidos como discursos, tomam a forma intimista de um diálogo consigo mesmo, tendo em vista facilitar a compreensão pelo outro. Seu objetivo é persuadir, mas sem qualquer resquício de autoritarismo intelectual. Seus argumentos são suaves, mas firmes.

    Socialista histórico, Saturnino Braga vai às raízes do pensamento de esquerda para costurar a alternativa de futuro, sempre com base no princípio norteador da promoção da justiça social. Em um momento em que tentamos reencontrar o nosso projeto nacional interrompido, é muito importante o resgate que faz de Getúlio Vargas como um demiurgo do positivismo, e do positivismo como um movimento político que, na versão brasileira, estava na vanguarda do nosso processo civilizatório, tendo em vista o contexto anterior da República oligárquica.

    Grande parte da reflexão e da angústia que o senador Saturnino Braga derrama nestas páginas está voltada para o futuro, particularmente para o desafio colocado ao presidente Lula. Resume-se num apelo quase dramático para que o presidente ponha de lado, "com um descaminho, um equívoco lamentável, a experiência do neoliberalismo". E faça isso rapidamente: "A efetivação do compromisso [do governo] exige a ousadia da confrontação com o mercado financeiro. Confrontação que não é incompatível com a prudência sempre demandada nas ações de um chefe de governo, mas que não pode ser adiada até que as condições sejam propícias (...). O mercado tem de sentir disposição de ousadia no governo para que a dialética do enfrentamento se manifeste de maneira positiva para a Nação."

    Essa estatura de estadista, esse desapego a interesses pessoais, essa visão ampla dos problemas do Brasil e do mundo colocam Saturnino Braga em um lugar especial entre os políticos brasileiros.

                        César Benjamin

Roberto Saturnino Braga nasceu no Rio de Janeiro. Formou-se em engenharia em 1954 e no ano seguinte foi aprovado no primeiro concurso realizado pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE, hoje BNDES). Permaneceu no banco até 1975. Ainda na década de 1950, fez cursos regulares na Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) e integrou os quadros do Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb). Foi o primeiro prefeito do Rio de Janeiro eleito pelo voto direto. Também foi eleito vereador, deputado federal e senador (três vezes).