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Graciosidade e estagnação: ensaios escolhidos

Hans Ulrich Gumbrecht
125 páginas
ISBN: 9788578660499
Tradução:Luciana Villas Bôas e Markus Hediger
R$ 52,00  R$ 31,20

Renomeada como "estudos culturais", "humanidades" e outros nomes evasivos, a investigação da literatura e da arte parece ter virado as costas às promessas da "educação estética" de Schiller e, mais ainda, a investigações em torno de valores profundamente humanos como Anmut und Würde [graça e dignidade], supostamente inerentes à arte e justificativa para seu estudo e sua prática.


    O que resta, então, para o professor? O que justifica a existência do acadêmico? Eis o dilema do crítico de arte e professor de literatura, (in)voluntariamente acuado no papel do "intelectual público": somos condenados a enfrentar as pirâmides enciclopédicas de conceitos e conhecimentos, perdendo de vista a arte? O que é arte? A arte mesma, a poesia? Ela é graça, graça pura, sem mais nem menos. Talvez lhe coubesse tão somente o famoso aforismo do místico Jacob Boehme: "A rosa é sem porquê"...


    Há vários momentos que preparam o que hoje chamamos de pós-modernidade – mais especificamente, a mistura de exaltante liberação e de resignação diante da desaceleração do tempo, que torna possível (pelo menos em tese) contemplarmos todos os momentos numa simultaneidade... É claro que a era digital e o Vale do Silício souberam dar um lustro (quase) real (ou hiper-real) a esse sonho de presença total e de "fim da história". Tudo indica que ocorreu uma mudança de paradigma histórico, que estamos (ou estaríamos) em um novo cronótopo – o da simultaneidade e da estagnação. O que não é dito, nessa pretensão que renova num registro melancólico as apostas de Hegel no movimento lógico do conceito, é o fato de que a copresença e a simultaneidade valem tão somente para o próprio movimento lógico. Quem sabe pairar nesse tempo-sem-tempo é a "intuição intelectual", como se dizia há duzentos anos, evitando elegantemente o nome de Deus: o que é verdadeiro em tese não vale para seres finitos, históricos e híbridos (corpo, alma e intelecto) como nós.


    Como, nessas condições, pensar a história e, mais ainda, a história dos conceitos? Gumbrecht passa em revista alguns dos expoentes marcantes do século XX, de Heidegger e Koselleck, de Blumenberg a Haverkamp (entre outros), antes de recorrer à intuição de um grande poeta: Heinrich Von Kleist. Com a ajuda do pensamento estético desse representante da grande tradição poeto-lógica, Gumbrecht desvencilha-se novamente dos sofismas centrais das teorias pós-estruturalistas, como a incognoscibilidade do real e o novo cronótopo. O último capítulo, "Graciosidade e jogo: por que não é preciso entender a dança", nos extrai com uma pirueta graciosa do dilema inicial e reafirma, numa linguagem contemporânea, o que os grandes artistas, antes e depois de Schiller, consideraram como o cerne da arte e da crítica.


                        Kathrin Rosenfield



"Durante um breve momento, [a dança] nos preenche com alegria e energia e nos transmite a ilusão de que o corpo, que acabou de decolar, possa voar, como se fosse parte da natureza, como se tivesse asas, como se fosse um pássaro. Sem a nossa presença como público, esse movimento de autodesvelamento não poderia ser realizado. Nós, os espectadores, somos o meio que libera e recebe essa energia adicional. Mas não podemos planejar nem evocar esse ‘autodesvelamento do Ser’. Querer entender o ‘autodesvelamento do Ser’ significaria impossibilitá-lo de antemão como evento. Por isso, tudo que podemos fazer quando assistimos fascinados a uma dança é estar presentes. Concentrados, receptivos e serenos, sem intenções e sem muita autorreflexão. Estamos presentes e assim recuperamos novamente uma noção do nosso lugar na natureza. Ao mesmo tempo, participamos do meio para o autodesvelamento do nosso próprio Ser."


          Hans Ulrich Gumbrecht

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