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Aby Warburg e a imagem em movimento
Philippe-Alain Michaud
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Este livro acompanha os principais movimentos do pensamento de Aby Warburg: o deslocamento radical que o levou para fora dos limites tradicionais da história da arte, a agitação suscitada pelo encontro com as culturas pagãs e a frenética coreografia que desenhou entre as imagens.   Philippe-Alain Michaud descortina diferentes frequências, ritmos, derivas e colisões na obra de Warburg ao se defrontar com a imagem em movimento. Desdobra-se, assim, uma série de painéis que exibem relações anacrônicas: desde os experimentos cinetoscópicos de William K. L. Dickson e a cronofotografia de Etienne-Jules Marey, até um ritual indÃgena, cuja dança faz estremecer o solo estável dos estudos sobre o Renascimento e seus pressupostos humanistas.   Para Warburg, pensar as imagens não implica apenas confrontar objetos heterogêneos, mas também localizar falhas, tensões e contradições, num entrelaçamento de tempos e memórias. Contrariando as concepções apolÃneas da história da arte, o pensador alemão vislumbrou as forças dionisÃacas que pulsavam nas imagens renascentistas, revelando movimentos inesperados em detalhes de cenas ou em motivos e personagens de pinturas, gravuras, desenhos, fotografias e outras inscrições visuais que sobrevivem no tempo e abalam as trilhas das determinações históricas.   Em seu atlas Mnemosyne, o "homem que conversava com as borboletas" concebeu um campo de forças em constante movimentação, operado por uma "iconologia dos intervalos" que não se referia ao significado das imagens, conforme as análises de Erwin Panofsky, mas à s relações que elas mantêm entre si em uma disposição visual autônoma. Trabalho insólito, que instaura um saber a partir da montagem: as infinitas possibilidades de correspondência entre imagens constroem um pensamento movente, irredutÃvel à ordem do discurso e à s visões teleológicas.   Esse pensamento pode ser vislumbrado em dois escritos de AbyWarburg: "Recordações de uma viagem à terra dos Pueblos" (1923) e "Projeto de uma viagem à América" (1927), também traduzidos neste livro. Marcado por uma "repulsa à história estetizante da arte", o primeiro texto consiste em notas preparatórias para a famosa conferência que Warburg ministrou em Kreuzlingen, na clÃnica psiquiátrica de Ludwig Binswanger, sobre sua passagem pela região dos Ãndios Pueblo, no Novo México. Uma "viagem iniciática", na qual o fundador da "ciência sem nome" teve contato com um pensamento totêmico cuja "imaginação lúdica" sobrevivera ao racionalismo ocidental. Trata-se de uma experiência marcante na vida do autor, que conduziu seus interesses de "sismográfo das culturas" para uma América na qual latejava a "tensão entre os dois polos: a energia natural, instintiva e pagã, e a inteligência organizada".   Boa parte do fascÃnio provocado pela vida e a obra de Aby Warburg deve-se ao fato de que, para ele, o saber era inseparável da aventura. Neste livro ecoam tais fulgores: suas páginas transportam o leitor pelos caminhos sinuosos dessa excêntrica antropologia das imagens, como um convite a se deixar cativar pelos feitiços de uma serpente.      Tadeu Capistrano Philippe-Alain Michaud é crÃtico e historiador de artes visuais, especializado em pesquisas sobre as diversas formas de cinema. É curador da coleção de filmes do Museu Nacional de Arte Moderna no Centre Georges Pompidou, em Paris. É autor de ensaios, livros e catálogos de exposições sobre cinema, arte moderna e contemporânea, tais como "Pyrotechnies: une histoire du cinema incendiare", "Sketches: Histoire de lÂ’art, cinema", "Le Mouvement des images" e "Tapis volants". Este livro foi a primeira publicação sobre a obra de Aby Warburg em francês. |
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