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Longo século XX, O: dinheiro, poder e as origens do nosso tempo

Giovanni Arrighi
394 páginas
ISBN: 978-85-85910-10-5
Tradução: Vera Ribeiro
R$ 112,00  R$ 67,20

Que padrões recorrentes podem ser percebidos na formação, expansão e crise de cada uma das quatro hegemonias que moldaram, nos últimos seiscentos anos, a economia mundial? Até que ponto esses padrões se repetem hoje, na crise do "século americano", o "longo século XX"? Que características atuais são realmente novas, abrindo a possibilidade de a história seguir, a partir de agora, um rumo qualitativamente diferente?


    Num livro erudito, ambicioso e ousado, ganhador do prêmio Distinguished Scholarship da American Sociological Association, Giovanni Arrighi parte da configuração atual do sistema internacional de poder, faz uma profunda incursão histórica – discutindo os modelos propostos por Marx, Weber, Schumpeter, Braudel e outros autores – e volta para os dias de hoje, imaginando um leque de alternativas. O estudo das estruturas e agentes que moldaram o curso da história moderna lhe permite identificar quatro "séculos longos", ou seja, períodos de mais de cem anos, parcialmente superpostos, que Arrighi, continuando Braudel, propõe como unidades temporais básicas para a análise dos processos mundiais de acumulação de capital.


    Centralizando redes de produção, comércio e poder, Gênova (do século XV ao início do XVII), Holanda (do fim do século XVI até a maior parte do XVIII), Inglaterra (da segunda metade do século XVIII ao início do XX) e, finalmente, Estados Unidos (de 1870 até hoje) asseguraram para si, em cada momento, o comando da economia mundial. Em cada um desses casos, diz Arrighi, fases de expansão material precederam fases de expansão financeira, ambas formando, em conjunto, um "ciclo sistêmico de acumulação". Nas primeiras fases de cada ciclo, o capital coloca em movimento uma massa crescente produtos – inclusive força de trabalho e bens naturais, transformados em mercadorias –, enquanto nas fases seguintes esse mesmo capital busca libertar-se de sua forma-mercadoria, prosseguindo a acumulação, cada vez mais, através de mecanismos financeiros. É o "sinal do outono" de um ciclo sistêmico, que vem associado ao deslocamento do comando da economia mundial em direção a um novo centro hegemônico.


    Esses ciclos descrevem, assim, a criação, consolidação e desintegração dos sucessivos regimes através dos quais a economia capitalista mundial se expandiu, até ganhar uma dimensão global. Formaram-se, em sequência, estruturas governamentais e empresariais cada vez mais amplas e complexas, nas quais sempre conviveram, de diferentes formas, em simbiose e em conflito, as lógicas "territorialista" e "capitalista" de poder. Esse processo, no entanto, tem um claro limite intrínseco: o sistema mundial não pode expandir-se indefinidamente.


    Hoje, pouca margem há, com efeito, para novos aumentos de escala, como os do passado. No momento de declínio do "século americano", as dificuldades enfrentadas pelas estruturas emergentes do capitalismo asiático podem ser um sintoma de que um auge foi atingido, ou está prestes a sê-lo. Será que as estruturas do regime americano constituem o limite máximo do processo de seis séculos, através do qual o poder capitalista atingiu seu alcance e tamanho atuais, que parecem tudo abranger?


    Se isso for verdade, a turbulência deste fim de século pode estar produzindo não uma nova reorganização do moderno sistema de poder em bases mais amplas, porém sua metamorfose num sistema muito diferente, que, surpreendentemente, revitaliza alguns aspectos dos modos de dominação do começo da modernidade, ou mesmo pré-modernos.

                        César Benjamin

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