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Invenção da histeria: Charcot e a iconografia fotográfica da Salpêtrière

Georges Didi-Huberman
504 páginas
ISBN: 978-85-7866-115-1
Tradução: Vera Ribeiro
R$ 116,00  R$ 69,60

Partindo do fascínio exercido pelas fotografias de pacientes histéricas que compõem a iconografia do asilo La Salpêtrière, publicada em Paris entre 1875 e 1880, Georges Didi-Huberman abre, neste que foi seu primeiro livro, as vias que serão exploradas ao longo de toda a sua obra.

Os clichês do célebre hospital apresentam uma "visibilidade extrema" e quase escandalosa, permanecendo contudo indecifráveis. A dor e o gozo dessas pacientes são expostos em imagens por vezes atrozes e muitas vezes belas, enigmáticas, sedutoras. Sob esse foco, a histeria talvez seja uma arte.

Trata-se da "besta negra" – nas palavras de Freud – dos médicos da segunda metade do século XIX. Em sintomas estranhos, mutáveis e fabulosos, como as convulsões e as acrobacias do chamado "grande ataque histérico", essas mulheres punham em cena seus corpos e desafiavam a moralidade vitoriana. O ato inaugural da psicanálise consistirá em lhes dar voz – e ouvir suas fantasias e memórias (pois, como afirmava Freud, "elas sofrem de reminiscências"). Antes que alguém as ouvisse, porém, as histéricas apresentavam-se sobretudo como objeto do olhar – especialmente para o grande médico Jean-Marie Charcot.

Resgatando as manifestações histéricas da suspeita de simulação e engodo, Charcot empenha-se em descrevê-las cientificamente e realiza uma verdadeira invenção da histeria como espetáculo. A fotografia vem auxiliá-lo como suposta garantia da objetividade do olhar, mas as imagens das manifestações histéricas escancaram sua natureza teatral e expressiva. Em lugar do face a face inequívoco entre uma lente neutra e uma clara realidade, revela-se então uma relação de amor e de poder entre médicos e pacientes, gerando "evidências" que não são mais que pura aparência, simulacro. Com as espetaculares histéricas, o sujeito triunfa sobre a objetividade da máquina e denuncia a estrutura imaginária da própria realidade.

A iconografia da Salpêtrière permite ao autor conceber a imagem como conflito análogo ao sintoma em psicanálise. Perscrutando as brechas que situam a imagem sob o signo da dessemelhança e da ruína e levando Freud a encontrar-se com Aby Warburg, o pensador francês revisita sob essa chave questões fundamentais da história da arte.

Incontornável para os interessados em arte contemporânea, o livro traz também uma contribuição notável para a psicanálise – especialmente na vigorosa crítica feita à noção de sublimação em uma conferência de 2011, acrescida como posfácio a esta edição.


Tania Rivera

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