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Possuídos: crimes hipnóticos, ficção corporativa e a invenção do cinema

Stefan Andriopoulos
236 páginas
ISBN: 9788578661069
Tradução: Vera Ribeiro
R$ 73,00  R$ 43,80

Desde o início, o cinema tem sido frequentado por corpos mesmerizados, decapitados e desmembrados. Além de seus poderes de atração, eles refletem um lado sombrio do espectador: a vulnerabilidade de ser possuído, dissociado e governado por uma irresistível força externa, carismática e espetacular.


Neste livro instigante, Stefan Andriopoulos mostra como a literatura e o cinema da Alemanha do início do século XX exploraram os temas da hipnose e da ação ameaçadora das corporações emergentes que "possuíam" as identidades individuais. Ele se detém na angústia suscitada por essa possibilidade, uma preocupação difundida em filmes e textos jurídicos, médicos e literários da época.


Diante desse cenário convulsivo, onde pairavam as sombras do expressionismo, Andriopoulos dirige a atenção do leitor para os "crimes hipnóticos", ou seja, os homicídios cometidos contra a vontade de seu "autor". Assim, ele nos conduz a um período histórico em que as pesquisas médicas descreviam o sujeito hipnotizado como um veículo que podia ser conduzido a cometer atos violentos.


Em análises luminosas de filmes como "O gabinete do dr. Caligari" (1919) e "Dr. Mabuse, o jogador" (1922) observa-se de que modo essas obras projetavam nas telas as possibilidades da "sugestão criminal". Além disso, Andrioupoulos analisa o uso de recursos especificamente fílmicos para manipular a atenção do espectador, como o primeiro plano ou close-up, tendo em vista deflagrar o suposto transe cinematográfico. Enquanto Caligari e Mabuse envolviam as plateias em atmosferas mesmerizantes criadas a partir de suas "psicotecnologias de sugestão", os debates sobre a influência hipnótica do cinema nos espectadores ficavam cada vez mais densos no campo médico-legal.


O tema da possessão também se irradiava nas páginas da ficção modernista da época. Andriopoulos enriquece suas análises fílmicas com leituras de "O processo" (1914-15) e "O castelo" (1922), romances de Franz Kafka, cujas narrativas abordam processos de despersonalização ao tratar da fusão do corpo humano com as entidades corporativas jurídicas.


Trata-se de um livro fascinante, que acrescenta uma nova dimensão à maneira como compreendemos as inquietações do mundo contemporâneo, assombrado pelo assalto virtual das tecnologias audiovisuais e pelo alcance crescente das corporações midiáticas. Eles parecem absorver nossas capacidades desejantes, transformando cada indivíduo num nodo espectral da rede contínua de informações.


Tadeu Capistrano
Escola de Belas Artes da UFRJ

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